Se você está na internet, com certeza já ouviu falar da cultura do cancelamento – quem sabe até já foi alvo ou cancelou alguém. Na prática, todos nós que já tivemos experiência vendo acontecer ou vivendo ela sabemos como funciona. Mas você sabe como ela surgiu e porque se tornou tão problemática?
A cultura do cancelamento é uma aposta para o tema da redação do Enem. O assunto está em alta e sempre dá o que falar. Especialmente na pandemia, quando diversos influenciadores foram cancelados por não respeitarem as recomendações de isolamento. Neste artigo, vamos explicar tudo sobre esse tópico tão sensível e polêmico.
O que é a cultura do cancelamento?
Cancelar alguém é o mesmo que boicotar uma pessoa nas redes sociais. Normalmente, o cancelamento é motivado por alguma atitude moral ou politicamente incorreta que ela tenha cometido, seja no ambiente virtual ou real.
Com o cancelamento, pretende-se que a pessoa boicotada se explique ou se retrate sobre sua ação. Mas, além disso, também há uma expectativa de que instituições públicas ou privadas tomem decisões sobre isso. O que começa na internet, inicialmente com um enxurrada de unfollows e comentários negativos, toma proporções enormes fora dali também. Há a ameaça dos usuários de pararem de consumir produtos e serviços que estejam envolvidos na polêmica e até pressão para que haja rompimentos de contratos com as pessoas canceladas.
Os mais atingidos pelo cancelamento são pessoas famosas, porque elas estão mais expostas. Entretanto, essa não é uma exclusividade das celebridades. Hoje, qualquer um pode ser condenado no tribunal da internet.
Mas como é decidido quais ações merecem ser punidas com o cancelamento?
Por que alguém deve ser cancelado?
Como já foi dito antes, o cancelamento é motivado por ações imorais que alguém tenha cometido. Essa definição, contudo, assim como a da própria moralidade, é muito ampla. Então, que ações seriam essas? Na maior parte dos casos, elas estão ligadas a quaisquer comportamentos que tenham sido preconceituosos. Atitudes racistas, machistas, xenofóbicas, homofóbicas, entre tantas outras, não são toleradas.
O que o movimento de cancelamento inicialmente deseja é justiça social. Os canceladores expõem autoridades e famosos que estejam em uma posição privilegiada, cobrando comportamentos que sirvam de exemplo, e não como uma forma de amplificar o preconceito devido ao alcance que têm. Isso tudo começou com o fortalecimento do ciberativismo.
Como começou a cultura do cancelamento?
A internet é lugar de todo mundo. Qualquer pessoa pode criar um perfil nas redes sociais e começar a produzir conteúdo. Não há quem edite isso ou quem decida o que merece ou não ir “ao ar”. Sendo assim, pautas e histórias que por muito tempo ficaram de fora da edição da mídia tradicional começaram a aparecer nesse novo meio de comunicação.
Os movimentos sociais que não tinham espaço na TV, nas rádios ou nos jornais, ganharam voz e audiência nas redes sociais. Quando, finalmente, puderam apresentar seus pontos, suas pautas ficaram ainda mais fortes e relevantes.
Apesar de ter origem aí, o cancelamento em si ganhou força em 2017, com o movimento #MeToo. Essa hashtag foi utilizada para expor relatos de assédio e agressões sexuais principalmente no ambiente de trabalho.
Lendo assim, o cancelamento não parece algo ruim, certo? Ele cobra mudanças que precisam acontecer, ligadas principalmente ao respeito por grupos minoritários. Então por que ele se tornou tão polêmico e problemático?
O principal problema em relação à cultura do cancelamento é justamente o desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Se agora a agressão não é mais física, ela é psicológica e social. Além disso, nem tudo é julgado da forma correta, o que acaba gerando uma série de injustiças.
Consequências do cancelamento
Com o passar do tempo e o fortalecimento da cultura do cancelamento, mais do que ações passaram a ser boicotadas. Inclusive, o próprio silêncio de personalidades influentes diante de alguma situação de injustiça se tornou motivo para isso. Além do mais, expressões ou gestos mal interpretados e fora de contexto também são gatilhos para o boicote.
Um dos casos mais expressivos das injustiças que o cancelamento promove é o do americano Emmanuel Cafferty, de 47 anos. Ele sequer tinha uma conta no Twitter, mas bastou um vídeo seu viralizar por lá para que ele perdesse o emprego. Na filmagem, ele fazia um gesto de “ok” com as mãos para fora da janela do carro.
Nos Estados Unidos, contudo, esse gesto pode ser usado com uma conotação racista em alguns fóruns supremacistas. Entretanto, a própria Liga Anti-Difamação, que combate discursos de ódio há anos, informou que esse símbolo ainda é muito usado cotidianamente como “ok”. Mesmo assim, não houve conversa e ele perdeu o emprego.
A perda do emprego é só uma dessas consequências. Além dos prejuízos financeiros, também existem os sociais. É comum que o cancelado perca amigos, fãs, clientes e a carreira. Consequentemente, surgem traumas psicológicos e emocionais.
Esse é o lado feio do cancelamento. Como você se posiciona em relação a isso?
Prós e Contras da Cultura do Cancelamento
Seja contra ou a favor do cancelamento nas redes sociais, você precisa se basear em argumentos para defender seu posicionamento. Vamos mostrar alguns para te ajudar nisso.
Argumentos a favor
A cultura do cancelamento é uma forma de expor pessoas protegidas pelo status social. Dessa forma, elas são obrigadas a rever sua posição de privilégio.
As redes sociais dão espaço de fala e amplificam a voz de grupos social e historicamente excluídos. No ambiente virtual, eles podem falar sobre as suas realidades da maneira que desejam.
O cancelamento joga luz em diversos problemas sociais. Nesse sentido, ele permite que as pessoas tomem conhecimento sobre causas importantes. Isso possibilita a criação de opiniões mais críticas.
Argumentos contra
A cultura do cancelamento não gera mudanças reais nas estruturas sociais. Ela simplesmente exclui qualquer possibilidade de debate ou diálogo, sem os quais não há transformação.
O cancelamento é um lichamento virtual, já que os canceladores fazem justiça com as próprias mãos. Ele segue uma lógica punitivista, como se o cancelado fosse um “caso perdido”. Ao mesmo tempo em que se espera uma retratação, ela quase nunca é considerada verdadeira, já que a motivação das desculpas pode ter isso o próprio boicote.
Os canceladores, protegidos pelo anonimato da internet, tendem a ser mais agressivos do que na vida real. Eles se sentem mais à vontade para disseminar ódio. Além disso, discordar e humilhar o cancelado é uma forma de se posicionar contrariamente ao que ele fez. Portanto, serve para fazer o cancelador se sentir moralmente superior.
Depois de entender melhor as várias nuances do cancelamento, qual é seu posicionamento sobre isso? Sabendo qual é a raiz do problema, como você acredita ser possível melhorar a situação? Deixe sua opinião nos comentários. Aproveite ainda essas ideias e escreva uma redação no formato da exigida pelo Enem sobre esse tema para treinar.
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