Destruição de Patrimônios Históricos como Protesto – Tema de Redação do Enem

Prática comum em períodos de efervescência social desde a Idade Média, a destruição de patrimônios históricos como forma de protesto tem chances de aparecer como proposta de redação na próxima edição do Enem.

Destruição de Patrimônios Históricos como Protesto - Tema de Redação do Enem
Protestos “Black Lives Matter” após morte de George Floyd

A morte de George Floyd pela abordagem brutal de um policial branco, nos Estados Unidos, uma onda de protestos antirracistas tomou conta de todo o mundo, reivindicando uma sociedade mais igualitária e justa para pessoas negras, além de exigir um revisionismo histórico.

Como parte dos protestos, em diversas partes do mundo tem se visto a ação direta de manifestantes contra patrimônios materiais, como estátuas e monumentos em homenagem a personalidades históricas com passado escravagista.

Um exemplo é o fato que ocorreu em Bristol, na Inglaterra, no mês de junho, quando um grupo de manifestantes derrubou a estátua do traficante de escravos Edward Colston e a derrubou em um rio.

Caso semelhante ocorreu nos Estados Unidos, onde duas estátuas de Cristóvão Colombo, navegador italiano responsável pela escravidão indígena e pelo comércio de escravos na época do descobrimento das Américas, foram decapitadas e derrubadas.

No Brasil, casos semelhantes também foram vistos não somente no último mês, mas ao longo dos últimos anos. O Monumento às Bandeiras, que homenageia os bandeirantes, responsáveis pelo desbravamento de novos territórios no Brasil, mas também por escravizar e exterminar milhares de indígenas, foi pixado diversas vezes por manifestantes.

Este tema tem protagonizado o noticiário dos últimos meses e levantado diversos debates na esfera pública e nas comunidades acadêmicas. Por este motivo, grandes são as chances de que a questão da destruição dos patrimônios históricos seja abordada na proposta de Redação da próxima edição do Enem.

Por isso, preparamos um guia a respeito desta temática para que você aprofunde seus conhecimentos relacionados a esta questão a fim de aprimorar seus argumentos e pensar em soluções para esta problemática. Confira!

O que está por trás da destruição de patrimônios históricos?

No Brasil, além de obras como o Monumento às Bandeiras, diversas outras estátuas e até mesmo nomes de ruas e rodovias homenageiam personalidades históricas que tiveram um papel destrutivo nos processos de colonização, como o comércio ou tráfico de escravos, além de práticas genocidas contra populações nativas.

Ao contrário do que muitos podem pensar, a destruição de patrimônios históricos não é uma prática atual. Pelo contrário, manifestações e protestos contra esses tipos de monumentos acontecem em todo o mundo desde a Idade Média.

Isso acontece, principalmente, em períodos de efervescência social e reivindicação de mudanças políticas, em que cidadãos comuns e lideranças exigem a revisão da História e uma transformação nos referenciais de heróis nacionais.

As estátuas devem ou não ser derrubadas?

Destruição de Patrimônios Históricos como Protesto - Tema de Redação do Enem
Praça Piazza Castello, Turim, Itália.

Não há um consenso a respeito da remoção ou da destruição dos patrimônios históricos. Aqueles que são favoráveis a retirada das estátuas que homenageiam figuras com um legado negativo para a memória do país reivindicam uma reparação histórica.

Sobretudo grupos sociais que descendem daqueles que foram alvo das ações violentas das figuras homenageadas reivindicam a remoção dos monumentos. Sem poder fazer nada que retire efetivamente as estátuas dos locais onde foram instaladas, optam pela destruição do patrimônio histórico como forma de se manifestar contra o passado sombrio das imagens representadas e o presente desigual motivado por essas personalidades.

Alguns historiadores e antropólogos, no entanto, defendem que monumentos que homenageiam esse tipo de figuras históricas devem ser retiradas pelo Estado dos locais onde estão instaladas e recolocadas em outros ambientes, voltados ao estudo e à reflexão acerca da História, como museus.

Apesar disso, há entre os historiadores aqueles que acreditam que remover essas figuras das vias públicas não significa removê-las da história. O que amplia o debate a respeito desse assunto.

Já outros grupos são contrários à destruição do patrimônio histórico, bem como à retirada dos monumentos das vias públicas. Para estes, remover esse tipo de obra é uma forma de apagar a História do país.

Propostas de soluções

Muitos historiadores acreditam que as estátuas, bustos e nomes de ruas que homenageiam personalidades históricas com passado escravocrata devem ser mantidas, mas que, nos locais onde estão instaladas, devem ser acrescentadas placas informativas a respeito de quem foram estas figuras a fim de provocar reflexão.

Outros, como já mencionamos, acreditam que estas podem ser removidas e colocadas em museus e centros de estudo com o mesmo propósito de provocar reflexão a respeito de quem foram esses indivíduos e o peso negativo que têm na História do país, a fim de evitar que esta se repita de outras formas.

Ambas podem ser boas propostas de soluções para a questão da destruição dos patrimônios históricos. Como dizem estes historiadores, mantê-las pode gerar a consciência de nosso passado e nos fazer refletir a respeito das práticas violentas contra grupos minoritários na História de nosso país a fim de evitar que isso continue acontecendo.

No entanto, outros grupos de historiadores defendem que a reivindicação dos manifestantes seja válida, já que não é confortável saber que a cidade homenageia algozes de ancestrais de grupos que, hoje em dia, continuam a sofrer com as injustiças sociais e com a discriminação justamente por causa deste passado.

No Congresso já há alguma movimentação para que monumentos em homenagem a personalidades escravagistas sejam removidas pelas vias legais. No final do mês de junho, a deputada Erica Malunguinho (PSOL-SP) apresentou a proposta de um Projeto de Lei que exige que estátuas, bustos, nomes de ruas e de rodovias que homenageiam o período histórico da escravidão e seus protagonistas sejam retirados.

O assunto é complexo, polêmico e gera muitos debates. É importante manter-se informado a respeito desse tema e trabalhar seus argumentos para produzir uma redação nota mil!

Para dar sua opinião ou debater essa proposta, você pode deixar seu comentário abaixo!

Jornalista e pós-graduanda em Literatura Brasileira. Atua como criadora de conteúdo, revisora e tradutora. Quer ser muitas coisas e é verdadeiramente apaixonada por tudo o que faz.

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